sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A Modernidade de Baudelaire


« C´est ici une belle occasion, en vérité, pour établir une théorie rationnelle et historique du beau, en opposition avec la théorie du beau unique et absolu; pour montrer que le beau est toujours, inévitablement, d´une composition double, bien que l´impression qu´il produit soit une ; car la difficulté de discerner les éléments variables du beau dans l´unité de l´impression n´infirme en rien la nécessité de la variété dans sa composition. Le beau est fait d´un élément éternel, invariable, dont la quantité est excessivement difficile à déterminer, et d´un élément relatif, circonstanciel, qui sera, si l´ont veut, tour á tour ou tout ensemble, l´époque, la mode, la morale, la passion. Sans ce second élément, qui est comme l´enveloppe amusante, titillante, apéritive, du divin gâteau, le premier élément serai indigestible, inappréciable, non adapté et non approprié à la nature humaine. Je défie qu´on découvre un échantillon quelconque de beauté qui ne contienne pas ces deux éléments. » 1


Recensão crítica do texto de Charles Baudelaire, “ O Pintor da vida moderna” 1

A publicação deste texto extraordinário e referencial para a História da Arte, teve algumas peripécias. Escrito em 1859, Baudelaire só conseguiria publicá-lo em 1863, em três fascículos no jornal “ Le Fígaro”. Esta dificuldade de publicação, apesar do prestígio de Baudelaire, ter-se-á devido ao facto de este poderosíssimo texto ser uma elegia a um pintor desconhecido e sem interesse mediático (ontem como hoje): Constantin Guys.
Este texto faz parte de um conjunto de textos ligados à arte que Baudelaire produziu, desde pequenas críticas a textos mais conceptuais como este.
Baudelaire assume com audácia o confronto com o “poder académico”, que espartilhava os novos caminhos da arte .
Podemos sem duvida afirmar que em termos teóricos, a modernidade foi introduzida através deste texto.
Toda a critica baudelairiana é uma produção de conceitos de uma forma lírica e ao mesmo tempo realista.
Charles Baudelaire defende os pintores da sua época, os modernos que ultrapassam o motivo com a paixão.
A nova concepção do belo, de certa forma dual, é a principal característica da modernidade : “ La modernité, c´est le transitoire, le fugitif, le contigent, la moitié de l´art, dont l´autre moitié est éternel et immuable.”
Para Baudelaire a arte era algo de universal e que, para ser atraente, deveria ser incorporada de laivos de actualidade.
Em termos puramente teóricos poderíamos chegar a um paradoxo e verificar que desde sempre a modernidade estaria presente na arte, o que nos colocava perante um dilema conceptual. Para nos esclarecer teremos de nos reportar a toda a obra de Baudelaire e verificarmos de como ele, desde sempre, abordou estes novos tempos e conceitos: ser moderno é incorporar a artificialidade das grandes metrópoles: a reinvenção de uma nova natureza, a natureza artificial, urbana e simultânea à assunção de um novo sentimento, semi melancólico, semi existencial, o Spleen.
A modernidade seria assim, segundo Baudelaire, o transitório, o efémero, o contigente, a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável.Charles Baudelaire afirma neste texto que a modernidade teria de extrair a beleza misteriosa da vida e do presente para que possa ser digna de se tornar antiguidade. Resume também, através de uma extraordinária lucidez, todo o pensamento que perdura até aos nossos dias ( o pensamento moderno).
Este texto “ O Pintor da vida moderna” é plenamente conseguido, pois resume de uma maneira muito intensa todo o pensamento e filosofia artística do autor de “ Les Fleurs du Mal”. A posterioridade estava conseguida mas Baudelaire tinha consciência que os seus leitores e os verdadeiros entendedores da sua obra ainda poderiam não ter nascido.
Afirmava também que toda a beleza seria originária no progresso da razão e não da natureza, em oposição aos conceitos do sec. XVIII : « Passez en revue, analysez tout ce qui est naturel, toutes les actions et les désirs du pur homme naturel, vous ne trouverez rien que d´affreux. Tout ce qui est beau et noble est le résultat de la raison et du calcul. »1
Ao artista, ele opõe o homem do mundo, inteiro e curioso. Este artista, este « pintor da vida moderna » vagueia entre o “ flâneur” e o génio.
Com este texto, Baudelaire passa à teoria, num método único de estruturação da lógica do raciocínio: estabelece uma relação única entre percepção, lembrança e experiencia estética. Foi Walter Benjamim que primeiro estabeleceu uma afinidade estética e conceptual entre Proust e Baudelaire. Jacques Derrida referencia também esta ligação teórica reafirmando a opinião de Baudelaire que associa a origem do desenho à memória, muito mais do que à percepção.2 E sendo assim, Baudelaire reafirma que os bons e maus desenhadores desenham com base na imagem escrita / inscrita no seu cérebro e não na imagem da natureza. Assim, e por consequência de razão, o verdadeiro crítico não seria aquele que no fulgor da exposição tira notas avidamente mas aquele que, na calma do seu retiro, redige de memória: o crítico criativo.1
O belo para Baudelaire é sempre bizarro e conduz a uma definição de arte como uma “ mnémotechnie du beau” uma certa oposição filosófica entre o visível e o dizível, entre o que se mostra e o que se diz. Ele assumia as dificuldades naturais em dizer e escrever a lembrança e a memória na confrontação das potencialidades expressivas da língua e dos afectos visuais produzidos pelo quadro.
Em resumo, o texto “ O Pintor da vida moderna” é também um ensaio sobre um pintor, Constantin Guys, onde Baudelaire analisa a sua obra e a sua vida. Em certa medida Guys reflectia a imagem baudelairiana de um dandismo ecléctico e espiritual. Um dandy urbano em que a metrópole e as suas novas valências ( o boulevard, o cabaret, o teatro, o Bois ) assumem o papel de uma natureza artificial.
Neste texto, Baudelaire reafirma o que deve ser uma verdadeira obra de arte enquadrada na teoria poética moderna.
Com Baudelaire e com este ensaio, é todo um espírito e um estilo que nascem, é toda uma consciência de si mesmo, do ser urbano que se estabelece em rede e em relação com a cidade.
Apesar de dizer respeito à pintura, este ensaio é mais uma significação simbólica de uma modificação e alteração profunda que é modernidade.
Em suma, este ensaio de Baudelaire é o acto da aparição da modernidade. Quer seja pelo espírito e pela inteligência incomparáveis dos seus escritos, quer pelo seu extremo bom gosto ou pela amplitude magnífica das suas ideias, Baudelaire ( crítico de arte ou poeta) é o primeiro grande esteta dos tempos modernos.

Referências Bibliográficas :



1 BAUDELAIRE, CHARLES (1868) : “ Le Peintre de la vie moderne » dans Baudelaire- Critique d´art ( 1992) . Paris. Gallimard
2 DERRIDA, JACQUES (1990) :Mémoires d´aveugle, Catalogue du Louvre Paris.RMN

4 comentários:

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Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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