« A linguagem política serve para tornar verosímeis as mentiras e respeitáveis os assassinatos, e para dar uma aparência de solidez ao que não é senão vento»
George Orwell
Vivemos obcecados pelo crescimento. Quer seja económico, social ou mesmo pessoal, o crescimento domina os nossos dias numa espiral embriagante.
Fazem-nos crer que, se não crescermos, não existimos e se não competirmos, não sobrevivemos.
Arrebanhados, empurram-nos para a frente, contaminados pela febre consumista na procura de uma salvação perpétua e sem sentido.
As novas elites transnacionais, as mesmas que controlam os gigantescos fluxos de capitais, exigem a todos, indivíduos e instituições, que andem para a frente e que sigam o movimento, esse movimento da globalização, alter-ego do capitalismo.
Uma visão crítica do crescimento
A mundialização técnico-mercantil necessita do crescimento perpétuo sem se preocupar com o devir, sem questionar a limitação dos recursos, sem limitações ambientais ou sociais.
Para os detentores dos fluxos de capitais são as mais-valias que interessam e tudo o que limitar o seu crescimento ilimitado terá tendência a diluir-se no meio desta febre global, neste contínuo andar para a frente, neste "para frentismo" (bougisme) atroz.
Não nego os benefícios que os diversos booms de crescimento, ao longo dos últimos 150 anos, proporcionaram à espécie humana níveis de bem-estar e evolução nunca antes atingidos.
Mas, e pela primeira vez na nossa curta existência enquanto habitantes deste planeta, estamos perante a escassez e a penúria de recursos, perante um verdadeiro desastre ambiental à escala global e perante a desigualdade exponencial entre ricos e pobres, quer a nível de países quer a nível interno, dentro desses mesmos países. Aliás esta desigualdade já se tornou emblemática e identificadora das políticas liberalistas sem regras, que pululam em quase todas as nações, independentemente do seu posicionamento político.
Modernizar continuamente e consumir perpetuamente são estes os dois mandamentos da política mundializadora global. Comunicar cada vez mais e mais depressa, como se, se não o fizéssemos não existíssemos. Fazer trocas comerciais com cada vez maior rentabilidade mesmo que, para isso não sejam respeitadas regras ambientais e sociais.
Resistir é preciso, resistir é possível
É necessário cada vez mais, definir uma postura de resistência que nos faça acordar da letargia contagiante que apenas beneficia quem domina.
Devemos aprofundar as estruturas democráticas e envolvermo-nos mais em organizações cívicas que nos possam efectivamente defender.
Reciclar e reutilizar, pensar e agir. Ser activo e acreditar que, com a acção e postura individual se pode mudar, que podemos mudar e que podemos servir de exemplo.
Existe esperança e devemos combater o imobilismo e melancolia que nos incutem diariamente.
" Mas o que é duro é o aprumo dessa boa gente, a segurança que sentem na asneira! São barulhentos como os caixotes grandes de que se servem; a sonoridade vem de serem vazios »
Gustave Flaubert
É o domínio absoluto da sociedade pelo "económico". Todas as vertentes de análise, em todos os sectores são vertentes economicistas.
O movimento perpétuo da globalização é por vezes contraditório, na sua essência e na sua prática já que, em contraponto a uma uniformização real acabamos por fragmentar a mesma sociedade que queremos uniforme, com base em desigualdades imensas e nunca antes registadas.
Estamos assim perante uma verdadeira religião do progresso que, supostamente deve ser automático e necessário.
Um outro mundo é possível, uma outra realidade é necessária"
"Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto ! »
Auguste Comte
Bibliografia
TAGUIEFF, Pierre André; (2002): "Resistir ao para frentismo", Campo da Comunicação, Lisboa
1 comentário:
Ola Carlos
E sempre com prazer que leio o teu blog. tenho pensado muito neste conceito de "crescimento", na hipnose colectiva em que vivemos e acredita e tao mais visivel onde me encontro. Parecemos (nos colectivo) adormecidos e somos manipulados habilmente por instituicoes e politicos.
Resta saber ate onde vamos poder "crescer" e que consequencias (drasticas suponho) teremos de enfrentar se nao fizermos algo e depressa. Lembra-te que o bem mais mal distribuido do mundo e o bom senso.
Um beijo grande
Cristina
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