sábado, 5 de abril de 2008

Os Primitivos Flamengos do Museu de Évora


Pertencente à colecção do Museu de Évora, o retábulo flamengo da Sé de Évora foi objecto de estudo material, historiográfico e de intervenção de conservação que, executado entre 2003 e 2008, resultou do protocolo assinado entre o director do Instituto Português de Museus, Manuel Bairrão Oleiro, e a directora do Instituto Português de Conservação e Restauro, Ana Isabel Seruya.1

Relatório de visita à exposição “ Olhar de Perto: os primitivos flamengos do museu de Évora
Museu nacional de Arte Antiga, Lisboa


A minha visita à exposição decorreu no dia 1 de Abril de 2008. Em plena pausa de almoço a visita ao Museu de Arte Antiga foi como entrar num refúgio hermético em que o balbucio da cidade fica no exterior e em que uma paz e silêncio nos absorvem.
Esta mostra é temporária e está patente até ao próximo dia 20 de Abril.
O primeiro impacto é de uma excelente apresentação da exposição com um layout moderno, claro e agradável, dentro dos standards internacionais, em que as pinturas estão em lugar de destaque e em que todo o historial do retábulo e do seu processo de restauro estão muito bem expostos. Apenas uma nota negativa para a falta de tradução dos interessantes textos de explicação o que torna a exposição limitada para os visitantes estrangeiros que, durante a minha visita eram a maioria. Definitivamente este é um facto que deve ser tido em conta não só pela projecção internacional que estes eventos poderão ter mas também para uma maior integração de políticas culturais com projectos de turismo cultural que na actualidade têm uma importância significativa.
Esta é a primeira apresentação pública das pinturas do antigo retábulo da capela-mor da Sé de Évora após a intervenção geral de conservação e restauro com que foram beneficiados.
Paralelamente e ainda dentro da exposição, é feito um balanço critico de todo este projecto global e da investigação em curso sobre este monumental políptico flamengo que hoje pertence ao espólio do Museu de Évora e que é património nacional.
O retábulo é constituído por treze extraordinários painéis dedicados à Vida e Glorificação da Virgem e por seis outros com os detalhes da Paixão de Cristo.
Para mim o painel central “ A Virgem em Glória” possui uma beleza e força que me impressionaram fortemente. Talvez por não esperar esta imponência a recepção pessoal desta obra de arte foi para mim também surpresa.
A povoação do espaço pictórico através de formas humanas coroadas com uma cor muito característica da escola flamenga, faz deste políptico peça fundamental no estudo da Arte Europeia.
Uma nota estética também à extrema qualidade artística de todo o retábulo, fruto de uma encomenda à oficina flamenga de Bruges no final do século XV.
Esta verdadeira exportação artística para o Sul da Europa que deverá ter tido bastante influência na posterior produção pictórica portuguesa, nomeadamente no início de Quinhentos e nas encomendas posteriores no reinado de D.Manuel para diversos retábulos ao longo do país.
Pessoalmente também me impressionou a dimensão do retábulo que ultrapassa tudo o que até hoje tinha visto, dando uma noção de grandeza e alteridade não habituais neste tipo de retábulos.
Em relação ao projecto de recuperação e restauro ele foi estruturado segundo bases científicas muito sólidas. Esta afirmação é perfeitamente fundamentada no estudo dos painéis explicativos de todas as fases do projecto. Toda esta explicação é detalhada e secundada por dados concretos.
Um nota final para o detalhe do percurso histórico das pinturas, exposto numa única sala e onde podemos seguir a informação desde as primeiras noticias sobre o retábulo até hoje e a esta mostra verdadeiramente extraordinária.


1 Folheto explicativo da Exposição.